segunda-feira, abril 20, 2009

O melhor solário do Mundo (ou uma homenagem a Sofia Frazoa)

Quando vou no carro vou sempre a ouvir rádio, à excepção de uma ou outra altura em que oiço 346 vezes em loop uma qualquer música que descubro e na qual fico viciada de uma forma perto da demência (coisa que acontece uma vez por semana e me ocupa aproximadamente dois dias, até que de repente fico farta dessa música até aos olhos).


Se na maioria das vezes vou sintonizada na Antena 3, cujas selecções musicais e programas que coincidem com as minhas viagens casa-trabalho-casa são os que mais gosto, existem duas excepções e ambas no Rádio Clube: os relatos do meu benfas feitos pelo Fernando Correia (o sportinguista mais porreiro a seguir ao meu irmão) e um programa de madrugada chamado "Posto de Escuta" em que uma moça chamada Sofia Frazoa ouve durante quatro horas os comentários/queixas/opiniões/dissertações dos ouvintes que estão acordados àquela hora e que telefonam para dizer "coisas" (na sua esmagadora maioria velhos e camionistas). A pobre rapariga, que já é a quarta ou quinta apresentadora, tem o meu apoio incondicional se quiser exigir uma reforma antecipada com todas as regalias... É que não deve ser um trabalho nada fácil...



Ontem ouvi o programa durante 5 minutos apenas mas foi o suficiente para estacionar o carro em lágrimas de tanto rir com uma ouvinte de 214 anos (a julgar pela "eloquência" do seu discurso) que comentava a viagem do Papa a Angola e que, entre outras, nos presenteou com a seguinte pérola:



- Pois é Sofia, e eu até gosto muito do Eduardinho e acho que ele é muito bonito, apesar de me parecer que ele tem um bocado de bronzeado ou lá o que é... Não lhe parece?




P.S.: Tive um fim de semana espectacular que estou mortinha por contar. Mas como estou à espera das fotos, tem de ficar para amanhã

terça-feira, abril 14, 2009

Sobre o amor (todo o tipo de amor)







E foi então que apareceu a raposa:

- Bom dia, disse a raposa.

- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.

- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...

- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita.

- Sou uma raposa, disse a raposa.

- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...

- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:

- O que quer dizer cativar ?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...

Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me! Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa. Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.

- É preciso ser paciente. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Cada dia te sentarás mais perto…Se tu vens por exemplo, às quatro da tarde, desde às três, eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!

Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

- Ah! Eu vou chorar…a gente corre o risco de chorar um pouco, quando se deixou cativar. E acrescentou:

- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua, é a única no mundo. É simples, o segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa…

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar…

- Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim…e nunca encontram o que procuram… E no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho d’água… Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração…”

Antoine de Saint-Exupéry

Tenho mesmo de mudar de casa...



... agora, quando me deito, fico entalada entre a fúria reprodutora do casal do andar de cima e a tosse cavernosa do velho do andar de baixo.

Antes fosse música aos berros, que, para além de mais agradável, sempre dava para reclamar. Não me estou a ver a ir bater à porta de cima e pedir para tentarem uma queca tântrica nem ao de baixo para pedir o favor de "falecer" mais silenciosamente...

Não quero parecer invejosa nem insensível (respectivamente)...SÓ QUERIA DORMIR!!!